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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O resultado desta pesquisa foi capaz de mostrar, em parte, a forma como foi feita a cobertura do surto de coronavírus por veículos tradicionais do Brasil. Mais semelhanças do que diferenças foram encontradas em dois dos veículos com maior relevância no cenário nacional, o que levanta a suspeita de que a mesma abordagem pode ter sido utilizada por veículos menores. O alto número de publicações sobre o coronavírus e seus reflexos em diferentes áreas confirmou a proeminência que esta pauta teve na imprensa brasileira — e, consequentemente, no debate público do País.

Tal debate, inclusive, transpareceu nos próprios jornais, com o destaque de editorias marcadas pela opinião. Uma pergunta que este trabalho não pôde responder devido aos seus limites é: seria essa característica uma constante diante de eventos tão significativos quanto o surto de COVID-19?

O antagonismo entre parte da imprensa e o chefe do Poder Executivo, Jair Bolsonaro, foi outro ponto refletido pelos números. Atitudes e declarações do presidente em relação à epidemia atraíram críticas de especialistas e geraram atritos com o Ministério da Saúde, o que, evidentemente, merece ser tratado pelos meios de comunicação. Porém, a frequência com que Bolsonaro foi mencionado na cobertura do coronavírus pode não ser uma coincidência e sinalizar uma reação da mídia frente às ameaças do presidente contra a liberdade de imprensa.

 

Este trabalho também esbarrou em algumas questões antigas e complexas do universo do jornalismo. Afinal, o que move o profissional da área? Seria a responsabilidade em divulgar os fatos, como os alunos aprendem em sala de aula, ou a chance de atrair mais cliques? Trazendo essa pergunta para dentro desta pesquisa, o que seria mais importante para a mídia, tratar assuntos da esfera política e de saúde pública (interesse público) ou alimentar o debate sobre os campeonatos de futebol e causar impacto no leitor (interesse do público)?

Por fim, a pesquisa evidencia outro tópico importante no que tange a responsabilidade da imprensa. Ao refletir sobre a distribuição de pautas de economia e saúde, por exemplo, percebe-se o papel crítico de editores e chefes de redação. Tanto economia quanto saúde são campos relevantes para o momento atual, porém carregam significados opostos para uma população obrigada a decidir entre o isolamento social e o mercado de trabalho. Mais uma vez, surge outra dúvida: estariam os jornalistas e veículos subestimando a influência que, em conjunto, exercem na sociedade?

Essas discussões tornam-se ainda mais urgentes diante de uma crise sanitária mundial. Por ser um tema sensível à população — vítima não só da COVID-19, mas também do desgaste psicológico e econômico causado pelo isolamento social—, o surto do novo coronavírus deveria estar sendo tratado com cautela por profissionais de comunicação. Logo, o papel da imprensa em situações do tipo deve ser debatido e diretrizes devem ser estabelecidas para que, no fim, a mídia deixe um saldo positivo na mitigação dos efeitos do vírus nas sociedades.

Trabalho de Conclusão de Curso

Escola de Comunicações e Artes

Universidade de São Paulo

Realizado por Paula Fernandes Lepinski

Com orientação de Prof. Dr. André Chaves de Melo Silva

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